22/04/2021
A classificação de risco surgiu devido ao crescimento das solicitações de urgência e emergência, em razão do aumento do número de acidentes e violência urbana nos últimos anos.
Por isso, os pronto-socorros acabaram por se tornar as portas de entrada dos hospitais graças a sua atuação 24h. Contudo, os pacientes recebidos nem sempre estão em situação de urgência e emergência o que pode acabar causando uma superlotação desnecessária.
O sistema de triagem ou classificação de risco surgiu como uma solução para o problema de superlotação. Sua finalidade é qualificar o atendimento prioritário de acordo com o risco clínico, logo alguns erros na classificação podem atrapalhar o fluxo e trazer consequências graves ao paciente.
Atualmente o sistema de triagem mais utilizado no Brasil é o Protocolo Manchester, que apesar de auxiliar na gestão do fluxo de pacientes necessita uma revisão periódica para afirmar seu funcionamento.
Sendo assim, após implantar o Protocolo, recomenda-se fazer uma auditoria mensal para garantir que o método e os conceitos estão sendo aplicados corretamente.
O processo de classificação de risco, como um dos principais da cadeia de valor dos serviços de urgência, foi desenvolvido para ser ensinado e auditado.
O Grupo de Triagem de Manchester determina a realização de auditorias como norma para acompanhar os processos de classificação. Assim,é possível ter a garantia de que a metodologia e os conceitos do Protocolo de Manchester estão sendo aplicados sem erros.
A auditoria na classificação de risco é um sistema de revisão e controle da qualidade, que fornece informações administrativas sobre a eficiência e eficácia dos procedimentos. A partir dela é possível indicar as falhas e os problemas, além de apontar sugestões e soluções.Os registros estão ligados à qualidade do cuidado, pois possibilitam avaliar o cuidado de enfermagem e criar estratégias eficazes de melhoria da qualidade.
Assim, a auditoria em serviços de classificação de risco demonstra ser uma forma de avaliar e acompanhar os processos de trabalho. Logo, ela tem um importante papel para as
instituições hospitalares e pronto atendimentos que cumprem uma função na promoção de cuidado efetivo à saúde.
Por isso, trouxemos aqui os principais erros individuais e situacionais para ajudar a monitorar, acompanhar e direcionar estratégias de aprimoramento e otimização.
Em uma análise de 1825 auditorias realizadas entre setembro de 2009 e setembro de 2010 em um hospital público de Belo Horizonte*, observou-se que muitos discriminadores e prioridades estavam sendo escolhidos de forma incorreta.
1)Os discriminadores foram escolhidos corretamente?
2)Os fluxogramas foram escolhidos corretamente?
3)As prioridades foram escolhidas corretamente?
O percentual médio de prioridades escolhidas corretamente durante o período de análise foi de 64%, resultado abaixo do recomendado pelo Grupo de Triagem Manchester.
Ao mesmo tempo, foi possível identificar 46% de discriminadores escolhidos erroneamente, foram 816 casos em relação ao total.Resultado maior que o estabelecido pelo Grupo de Triagem de Manchester .
Entretanto, os enfermeiros não apresentaram muitos erros na escolha dos fluxogramas.Num total foram registradas 47 não conformidades, são equivalentes a 3,6% de erros encontrados no período determinado da pesquisa. O resultado demonstra uma média de 3 não conformidades/mês para este critério.
Em contrapartida, foram identificadas 40,8% erros relacionados à escolha incorreta da prioridade do paciente, ou seja, 745 no total .
Os dados demonstram critérios abaixo da média para a classificação do Protocolo Manchester.
Sendo assim, a dica para este caso é verificar evidências para a seleção do discriminador e da prioridade.
A queixa deve ser CONCISA e TEMPORAL, principal motivo da ida à urgência.
✔CERTO: Dor na região frontal da cabeça, começou ontem e piorou hoje.
❌ERRADO: Dor de cabeça.
Exemplo:Dor na região frontal da cabeça, começou ontem e piorou hoje.
✔CERTO: Fluxograma de cefaleia.
❌ERRADO: Mal-estar em adulto.
Exemplo de queixa:Novo déficit neurológico a menos de 24 horas.
Perguntas: Sentiu algum formigamento ou dormência? Teve perda de força nos membros? Demonstra dificuldades para falar ou engolir? Quando começaram as queixas?
Os parâmetros podem ser:
Exemplo:
O paciente que apresenta coceira leve no braço e no tórax após ingerir carne de porco. Ao chegar no pronto atendimento ele é classificado com o fluxograma de Alergia, discriminado como evento recente e prioridade verde.
Devem ser registrados os valores de saturação de oxigênio, frequência e ritmo de pulso, nível de consciência e régua da dor de acordo com os critérios do Fluxograma.
Portanto, não há necessidade de fazer mensuração de pressão arterial, glicemia, temperatura, frequência respiratória, perfusão capilar central ou periférica neste caso.
Deverão ser registrados somente os valores de saturação de oxigênio, devido ao discriminador, saturação 02 baixa.
Ritmo e Frequência de pulso,pela presença do discriminador: pulso anormal.
Semelhantemente, o nível de consciência devido ao discriminador: Alteração súbita de consciência e régua da dor por haver a especificação no discriminador.
Dessa forma, para observar as não conformidades mais comuns e corrigi-las é importante fazer auditoria regularmente.
A escolha incorreta do discriminador e da prioridade relaciona-se ao uso inadequado de conceitos e a desatenção aos itens do protocolo. Este fato é evidenciado pela ausência do preenchimento de registros, como os parâmetros vitais. Escolher erroneamente a prioridade é uma inconformidade considerada mais grave, pois interfere fortemente no tempo de espera para avaliação médica do paciente.
Assim, visando minimizar a situação criada, uma boa opção é a obtenção de um software para automatizar os processos e registros dos parâmetros vitais na classificação de risco.
Com um software automatizado, é possível garantir o cumprimento dos protocolos de classificação de risco. Ao seguir o passo a passo do Protocolo de Manchester e registrar de maneira mais assertiva os sinais vitais e discriminadores, é possível aumentar o nível de conformidade com bom desempenho.
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*Dados retirados do artigo: Análise das auditorias do Protocolo Manchester de Classificação de Risco, publicado pela revista Enfermagem Brasil. Autoras Lucimeire de Menezes Zirley, Cristina Torres Lima, Maria de Lourdes Ulhôa. Edição Maio / Junho 2013